Moradores dos complexos da Penha e do Alemão, além de outras favelas do Rio, realizaram um protesto nesta sexta-feira (1º) após a Operação Contenção, que deixou 121 mortos na última terça. Mesmo sob chuva, milhares de pessoas se reuniram em um campo de futebol na Vila Cruzeiro, de onde seguiram em caminhada até a Avenida Brasil.
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Entre os participantes estavam mães de jovens mortos em ações policiais. Liliane Santos Rodrigues, do Alemão, perdeu o filho Gabriel Vieira, de 17 anos, morto há seis meses durante uma perseguição policial.
“Eu estou sentindo a dor dessas mães. Foi um baque muito grande ver que um rapaz foi morto no mesmo lugar em que o meu filho morreu. Tem três dias que eu não sei o que é dormir direito. Muita gente julga, mas só sabe quem passa. Hoje eu estou aqui para dar força para essas mães.”
Outras mulheres relataram perdas semelhantes. Nádia Santos, do Chapadão, perdeu dois filhos em operações, em 2015 e 2022. “Esse governador extermina o futuro dos jovens. O governo não dá oportunidade, e o tráfico abraça”, afirmou.
A microempreendedora Adriana Santana de Araújo, mãe de um dos 28 mortos na operação do Jacarezinho (2021), também participou do ato. Ela relembrou o sofrimento após a morte do filho e as fake news que associaram sua imagem a uma criminosa.
“No dia da operação, eu estava dormindo, quando a minha filha entrou desesperada no meu quarto, tremendo, e falando ‘tá dando tiro’. Quando eu vi, ela tava alisando a foto do irmão no celular e chorando. Ela me perguntou: ‘Será que vai acontecer com a gente igual o que aconteceu com o meu irmão?’ Foi um dia desesperador. Parecia que os tiros estavam dentro da nossa casa.”
O protesto também reuniu membros de movimentos sociais e trabalhistas, como a dirigente sindical Raimunda de Jesus. “A forma que aconteceu aqui não acontece na Zona Sul, nas áreas mais ricas, mas lá também tem bandidos”.
“Nós, que moramos na periferia, somos discriminados. Mas o Estado não pode nos ver como inimigos. O Estado tem que tratar e cuidar do seu povo, de toda a sua população”, afirmou.
Segundo o governo do estado, a operação foi planejada para cumprir mandados contra o Comando Vermelho e mobilizou 2.500 agentes. O resultado, contudo, foi a operação mais letal da história do Rio, com 117 civis e 4 policiais mortos.
Das 121 vítimas, 99 já foram identificadas — 78 com histórico criminal e 42 com mandados em aberto.
Organizações de direitos humanos classificaram a ação como “massacre” e “chacina”, denunciando indícios de execuções, tortura e mutilações.