Uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro revelou a existência de uma rede de fornecimento e manutenção de armas que sustenta o arsenal da facção criminosa Comando Vermelho (CV) no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. O caso tem como figura central o paranaense César Sinigalha Alvares, de 53 anos, atirador certificado pelo Exército e ex-presidente do Clube de Tiro de Apucarana (PR).
✅ Clique aqui para seguir o canal “RJ Info – Noticias do Rio” e receber as notícias no seu WhatsApp!
A relação de Alvares com o CV remonta a abril de 2001, quando ele foi preso em uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao chegar ao Rio em um ônibus interestadual. Em sua bagagem, foram encontrados um fuzil, uma metralhadora, 12 granadas e diversas munições, que segundo as investigações seriam destinadas à facção.
Após cumprir pena, Alvares voltou a ser detido em outras quatro ocasiões, sendo a mais recente durante a Operação Plexo, deflagrada em maio pela 60ª DP (Campos Elíseos) em conjunto com o Ministério Público do Rio (MPRJ). O inquérito aponta que ele assumiu, em 2024, a manutenção de armamentos de grosso calibre pertencentes a Jonathan Ricardo de Lima Medeiros, conhecido como Dom, apontado como um dos chefes do CV na Paraíba, atualmente foragido e escondido no Alemão.
De acordo com a polícia, vídeos e diálogos extraídos da conta de WhatsApp do armeiro mostram “a importância de sua especialidade em serviços de reparo, satisfazendo os pedidos de uma gama de traficantes que possuem acervo próprio, tornando-se peça principal na manutenção de todo o armamento utilizado”.
Em 2006, durante uma operação da Polícia Federal em Cambé (PR), um arsenal foi apreendido na chácara de Alvares. À época, ele afirmou em depoimento que havia dedicado toda a vida ao ofício de armeiro e instrutor de tiro autorizado pelo Exército.
A Operação Plexo também identificou a atuação de outros Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) ligados ao tráfico de armas para o CV. Um deles é Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça, integrante da facção oriundo de Rondônia, que ganhou espaço na hierarquia ao participar de disputas por território na região da Grande Jacarepaguá.
Durante a análise de mensagens trocadas por Da Roça, a polícia localizou uma planilha com gastos superiores a R$ 5 milhões em um único mês com a compra de armas e munições. Entre os fornecedores citados está Eduardo Bazzana, identificado como “Bazzana” nos registros. Ex-presidente do Clube Americanense de Tiro, com mais de 7 mil associados em São Paulo, ele também era proprietário de duas lojas de armamentos registradas no Exército. Bazzana foi preso em maio.
As investigações apontam ainda movimentações financeiras entre Da Roça e outro atirador esportivo, sócio de uma loja de armas localizada na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Segundo o relatório, o comerciante teria recebido depósitos fracionados para ocultar valores decorrentes da venda de materiais bélicos. O nome do atirador não foi incluído na denúncia apresentada pelo MPRJ.
À Justiça, a defesa de César Alvares afirmou que seu cliente é inocente e que “a denúncia se baseia apenas em ilações e presunções, carecendo de justa causa concreta”. Já a defesa de Eduardo Bazzana alegou que “a partir de 1º de janeiro de 2023, está havendo uma verdadeira caça às bruxas para quem atua nesta área, seja ele Atirador Desportivo, Caçador, Colecionador ou dono de loja ou clubes, como é o caso do Sr. Eduardo Bazzana (…) o único crime que ele cometeu nesta vida toda foi pagar seus impostos e não ser reconhecido como empresário digno e honesto que sempre foi”.