Nesta terça-feira, 15 de abril de 2025, José Luiz Faria da Silva realiza mais uma vigília em frente à sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, no centro da capital. A data marca os 29 anos da morte de seu filho, Maicon de Souza da Silva, assassinado aos dois anos e meio durante uma ação da Polícia Militar na comunidade de Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, em 1996.
O ato ocorre justamente próximo ao caso prescrever, após quase três décadas de impunidade. Apesar disso, nenhum dos policiais envolvidos foi responsabilizado judicialmente. Em protesto e como forma de resistência, José Luiz reafirma sua luta por justiça e memória, uma batalha que se estende por quase três décadas, atravessando esferas jurídicas nacionais e, agora, internacionais.
A vigília conta com o apoio da ComCausa, organização que há anos acompanha o caso e articula ações de apoio às vítimas da violência institucional na Baixada Fluminense e demais territórios populares. A ComCausa esteve presente em diversas etapas da luta do pai de Maicon, prestando suporte político e midiático, fortalecendo a memória do menino como símbolo de resistência frente ao abandono estatal.
“Essa é mais do que uma causa pessoal, é uma denúncia pública sobre o que acontece com as famílias pobres e negras quando enfrentam a violência do Estado. A presença da ComCausa e de tantas organizações é fundamental para que essa história não seja enterrada pela impunidade”, afirma Adriano Dias, fundador da ComCausa, que estará ao lado de José Luiz durante a mobilização.
Quase três décadas de luta por justiça
Desde a tragédia, o pai de Maicon se mantém incansável na busca por justiça. Acampou várias vezes em frente ao Ministério Público, realizou manifestações solitárias, denunciou a lentidão das investigações e, encaminhou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), e a Anistia Internacional a. A alegação é de que o Estado brasileiro falhou de maneira grave no dever de investigar, punir e reparar a morte do menino, configurando violação aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
A morte de Maicon se soma a uma série de episódios que marcaram a trajetória da comunidade de Acari, já profundamente atingida por outros episódios brutais, como a Chacina de Acari, em 1990, em que 11 jovens foram desaparecidos por policiais e nunca encontrados. A dor da perda, o silenciamento das famílias e a impunidade continuam sendo marcas da atuação do Estado nestes territórios.
“A cada ano que passa, a justiça se distancia, mas minha voz continua firme. Não vou desistir. Faço isso por Maicon, pelas outras mães e pais que perderam seus filhos. O que aconteceu com meu filho não pode ser apagado”, declarou José Luiz, emocionado.
Para José Luiz, trata-se de um ato de fé, mas também de uma convocação: “Enquanto eu viver, Maicon viverá nessa luta. E quem estiver comigo estará lutando também por todas as crianças que o Estado insiste em esquecer.”