O Rio de Janeiro voltou a testar ônibus elétricos em linhas municipais após 11 anos sem iniciativas desse tipo. Apesar do movimento, a capital fluminense segue fora da lista das 70 cidades da América Latina que já contam com veículos elétricos em operação, segundo a plataforma E-Bus Radar, que monitora a eletrificação da frota na região. Entre os destaques do ranking estão Santiago (Chile), Bogotá (Colômbia) e São Paulo, que lidera no Brasil.
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Atualmente, 26 cidades brasileiras utilizam ônibus elétricos, incluindo nove capitais. No Rio, o novo teste é realizado por iniciativa da empresa Auto Viação Tijuca (Tijuquinha), que colocou em circulação um veículo modelo Apache Vip V no início de setembro. O coletivo opera nas linhas 301 e 302 (Terminal Gentileza–Barra da Tijuca) e permanecerá em avaliação por um mês. Antes do início com passageiros, o veículo foi utilizado em treinamentos de motoristas.
O modelo possui oito baterias instaladas entre as rodas e a cabine do condutor, além de painel digital que indica a autonomia disponível. O motor é silencioso e a recarga é feita diariamente em uma estação na garagem da empresa, no Andaraí, Zona Norte.
Segundo o porta-voz do sindicato Rio Ônibus, Paulo Valente, a principal análise será em relação à autonomia da bateria. A última experiência semelhante ocorreu em 2014, na linha 249 (Água Santa–Carioca). Desde então, outras cidades fluminenses como Niterói, Petrópolis e Nova Friburgo já realizaram testes. Em junho, um ônibus elétrico também circulou na linha intermunicipal 417T (Xerém–Barra da Tijuca), alcançando autonomia de 280 km, conforme o Detro-RJ, que prevê novos testes em breve.
Na última semana, a Secretaria Municipal de Transportes publicou uma resolução estabelecendo regras para experimentos com ônibus elétricos. Os testes podem durar até 30 dias, prorrogáveis por igual período, e devem contar com GPS e validadores do Jaé. Os dados coletados — como consumo médio por quilômetro e tempo de recarga — devem ser entregues ao órgão em até sete dias após a conclusão.
A Prefeitura prevê concluir até o fim do ano um estudo de modelagem de custos para aquisição de ônibus elétricos, com a expectativa de que os primeiros veículos sejam incorporados à frota municipal em 2027.
No Brasil, o único município fluminense presente no E-Bus Radar é Volta Redonda, que já incorporou três veículos elétricos à sua frota. São Paulo lidera o ranking nacional, com 930 coletivos (7% da frota de 12 mil), incluindo trólebus e veículos a bateria. A capital paulista, que iniciou a eletrificação em 2019, tem meta de substituir 2,2 mil veículos a diesel até 2028. Entre as medidas em andamento estão a instalação de sistemas de armazenamento de energia (BESS) para ampliar a capacidade de recarga em garagens.
Apesar do avanço, o município enfrenta dificuldades estruturais. Em março, o prefeito Ricardo Nunes atribuiu à concessionária de energia os entraves na expansão da frota elétrica.
Na América Latina, Santiago e Bogotá lideram com 2.550 e 1.486 ônibus elétricos, respectivamente. De acordo com o Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), a diferença entre o Brasil e países vizinhos está no modelo de gestão: enquanto nos dois exemplos a operação é coordenada pelo governo central, no Brasil a responsabilidade é municipal. O custo também é um desafio, já que um ônibus elétrico pode ser até três vezes mais caro que um a diesel.
Marcel Martin, diretor-geral do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, sigla em inglês), avalia que os testes, como os que ocorrerão no Rio, são “um bom início”. A entidade é a responsável por manter o E-Bus Radar, junto ao grupo C40, que reúne grandes cidades do mundo na liderança pelo clima. Para o especialista, a grande diferença do Brasil para países vizinhos é a ingerência sobre o sistema de ônibus. Enquanto em Santiago e na Bogotá, as duas cidades com mais ônibus elétricos na América Latina, 2.550 e 1.486, respectivamente, isso fica a cargo do governo federal, no nosso país isso é atribuição de cada município. Isso faz diferença, visto que um coletivo deste modelo é três vezes mais caro que um a diesel, por exemplo.
— Mais do que conseguir, a gente precisa chegar nesses números (eletrificar a frota) porque está dada uma emergência climática — diz Martin, que sugere que o Rio use informações de testes em outras cidades, como Curitiba, Salvador e São Paulo, para não “sair do zero” no tema. — O que está acontecendo foi puxado pelos prefeitos, que entenderam que podiam ter resultados concretos na redução das mudanças climáticas com a eletrificação dos ônibus.