A Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou que criminosos infiltrados em torcidas organizadas utilizam redes sociais e códigos próprios para planejar assaltos e ações violentas em dias de jogos. A investigação resultou na Operação Pax Stadium, deflagrada na manhã desta quinta-feira (18), pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco).
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Foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão em diversos endereços, incluindo nove sedes de torcidas organizadas da capital. Durante as diligências, um homem morreu em confronto com policiais, outro foi preso em flagrante e um terceiro detido por posse ilegal de arma de fogo.
Segundo os investigadores, o objetivo da operação é reunir provas contra indivíduos que se aproveitam da estrutura das torcidas para cometer crimes. A ação ocorre em meio ao aumento de episódios violentos envolvendo torcedores nas últimas semanas, que resultaram em confrontos, tumultos e mortes.
O delegado titular da Draco, Álvaro Gomes, informou que foram apreendidos explosivos, cabos de enxada, celulares, notebooks e outros dispositivos eletrônicos. A quebra de sigilo dos aparelhos já foi autorizada e o material será periciado.
— Apreendemos explosivos na sede de uma dessas torcidas organizadas, assim como cabos de enxada. Em outras residências, interceptamos telefones celulares, notebooks e alguns dispositivos eletrônicos, que nos ajudarão a obter o máximo de informações para entender essa dinâmica, sobretudo das marcações das brigas — explica o delegado titular da Draco, Álvaro Gomes.
Uso de mensagens cifradas
De acordo com a polícia, os criminosos utilizavam siglas e expressões específicas para planejar ataques. Um dos códigos mais usados era “PAS”, referência a “pelotão de assalto surpresa”. Nas mensagens, os suspeitos se perguntavam se haveria “paS” (assalto) ou “paZ” (comportamento pacífico) em determinada partida.
Outro termo identificado foi “péssimo dia para vestir”, utilizado para indicar quais torcedores poderiam ser alvo. Por exemplo, a expressão “péssimo dia para vestir rubro-negro” indicava ataques a flamenguistas.
“As redes sociais se tornaram um espaço para a articulação desses crimes, potencializadas pelo anonimato garantido por apelidos e pseudônimos”, destacou o delegado.
Investigação e medidas preventivas
A Draco e o Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (Bepe) reforçaram que a investigação não tem como alvo as torcidas organizadas em si, mas os criminosos que se infiltram nesses grupos.
— Conseguir essas informações é o nosso real objetivo, pois acreditamos que podemos passar para uma nova fase da investigação com o que obtivermos. Isso nos garante a possibilidade de realizar uma expedição de mandados de prisão para aqueles CPFs que realmente estejam envolvidos de uma forma mais enraizada, mais próxima das atividades criminosas — explica Gomes.
Como medida preventiva, a Polícia Civil pretende ampliar o uso do sistema de reconhecimento facial já adotado no Maracanã, com o objetivo de identificar e deter suspeitos antes de novas ocorrências de violência.
Uso de mensagens secretas
Um dos códigos mais usados pelos bandidos, segundo a polícia, é “PAS” — sigla para “pelotão de assalto surpresa”. Em conversas on-line, os infiltrados perguntam entre si se haverá “paS” ou “paZ” no jogo, numa forma cifrada de indicar se pretendem praticar assaltos ou manter o comportamento pacífico.
Os criminosos também utilizavam os termos “péssimo dia para vestir” para indicar quais torcedores seriam atacados no dia. Por exemplo, se todos decidissem que seria um “péssimo dia para vestir rubro-negro”, qualquer flamenguista poderia se tornar alvos dos ataques.
— É nítido que as redes sociais viraram um espaço para marcarem essas algazarras. Um dos principais fatores que propiciam essa articulação pela internet é a questão do anonimato, já que os criminosos utilizam apelidos e pseudônimos, preservando a identidade — conta Álvaro Gomes.
O cenário de confrontos recentes envolvendo torcidas organizadas deixou mortos e feridos. Um torcedor vascaíno foi baleado e morreu; outro foi atingido no pé; e um terceiro foi morto a pauladas no último sábado.
A Torcida Jovem Fla (TJF), um dos grupos investigados, havia sido banida dos estádios por cinco anos. No dia de seu retorno, registrou episódios de violência em Copacabana, na Ponte Rio–Niterói e na linha férrea da SuperVia, em Marechal Hermes.
Diante dos novos incidentes, o Juizado do Torcedor determinou, nesta semana, que a TJF ficará novamente proibida de frequentar eventos esportivos por mais dois anos.
“Esses indivíduos não são torcedores comuns, mas criminosos disfarçados de torcedores”, reforçou o subcomandante do Bepe, tenente-coronel Guilherme.