Uma operação integrada das forças de segurança do Governo do Estado, realizada nesta quinta-feira (27/11), resultou na desarticulação de uma organização criminosa que vinha extorquindo empresas instaladas no entorno da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense. A ação, batizada de “Operação Refinaria Livre”, foi deflagrada por policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-CAP), da Baixada Fluminense (DRE-BF) e da 60ª DP (Campos Elíseos).
Entre os detidos está um pastor que se apresentava como líder religioso e comunitário, mas atuava como intermediador do Comando Vermelho para coagir empresários. Ao todo, três membros da quadrilha foram presos até o momento.
A organização criminosa é comandada por Joab da Conceição Silva, apontado como chefe do tráfico na região e classificado pelos investigadores como narcoterrorista. A equipe segue nas ruas para cumprir mandados de prisão temporária e de busca e apreensão, com o objetivo de garantir a coleta de provas, impedir pressões sobre testemunhas e evitar destruição de evidências.
O governador Cláudio Castro destacou o papel da Polícia Civil na repressão a crimes dessa natureza.
“A atuação da Polícia Civil é fundamental para que essa atividade criminosa seja reprimida em nosso Estado. Não importa quem seja, se estiver em conluio com bandidos, será levado à Justiça. Tenho certeza que, com a prisão desses criminosos, vamos avançar nos trabalhos de investigação e acabar com a extorsão a empresas na região. Não haverá descanso para quem desafiar a lei no Estado do Rio”, afirmou.
Como funcionava o esquema
De acordo com o inquérito, empresas instaladas no polo industrial da Reduc eram pressionadas a pagar mensalidades ao tráfico sob ameaça de incêndio de caminhões, agressões a funcionários, paralisação forçada das atividades e bloqueio do acesso às instalações.
O pastor preso atuava como o elo entre o crime e o setor produtivo, visitando pessoalmente as empresas. Ele chegava como representante comunitário, mas impunha normas determinadas por Joab, como proibição de estacionamento de caminhões, exigência de contratação de moradores indicados pela facção e oferta de “mediação” para evitar retaliações. Para os agentes, essa suposta mediação era apenas fachada para a prática de extorsão.
Documentos do Ministério do Trabalho e relatos de empresários mostram que diversas empresas foram obrigadas a interromper operações por vários dias devido às ameaças do grupo. As investigações revelam ainda que sindicatos e associações de fachada estavam sendo usados pelo tráfico para ampliar a pressão sobre o setor produtivo.
Infiltração no setor industrial
A Polícia Civil identificou que integrantes do grupo se inseriam nas empresas para controlar ilegalmente processos de contratação, interferir em seleções e cobrar vantagens para liberação de vagas. Parentes e aliados do tráfico eram impostos como funcionários — inclusive em funções que não exigiam, e muitas vezes não possuíam, qualificação técnica.
Uma das contratadas identificadas é a companheira de Joab, que ingressou em uma empresa poucos dias antes do ataque à 60ª DP, em fevereiro de 2025 — ação que, segundo as investigações, foi ordenada pelo próprio traficante.
Explosivos e articulação interestadual
O pastor preso nesta quinta-feira já havia sido detido no início do mês em Betim (MG) durante a “Operação Aves de Rapina”, quando foi flagrado transportando uma pistola, seis granadas artesanais, munições e dinheiro em espécie.
Ele confessou ter levado os explosivos de Duque de Caxias para Minas Gerais para realizar ações de intimidação e interromper serviços na Refinaria Gabriel Passos (Regap), sob o pretexto de atender a um “movimento grevista” articulado por sindicatos alinhados ao grupo criminoso. No veículo também estava o presidente de uma associação de empresas de transporte de combustível, o que reforça o envolvimento de entidades formais na estrutura criminosa.
A presença de artefatos explosivos indica que a quadrilha operava com táticas de terror e pretendia ameaçar não apenas empresas e trabalhadores, mas também a segurança de instalações estratégicas ligadas ao transporte nacional de combustíveis.